O Céu de Suely, de Karim Aïnouz
Vai ser difícil escrever melhor do que o Carlos Alberto Mattos, por isso, aí vai a crítica dele:
A história é um fiapo. Mas, com ela, diretor e equipe tecem uma trama primorosa de sutilezas. Um cinema mais de impressões que de informações. Após um curto prólogo em flashback, passamos a conviver com a doce Hermila (Hermila Guedes), recém-chegada de São Paulo e à espera do marido. Ela reencontra uma tia, a avó e um ex-namorado, mas suas raízes não são suficientes para prendê-la no sertão cearense. Para comprar a passagem de volta, a opção será adotar o pseudônimo de Suely e rifar, entre os homens do lugar, “uma noite no paraíso” ao seu lado.
No fundo, a “ação” do filme não importa muito, mas sim a maneira como a personagem a conduz, num misto de aflição (espiritual) e indiferença (física). Importam as sensações de ócio e espera que regem seus movimentos. Hermila é uma mulher que de repente ficou estrangeira no seu ambiente de origem. Deixou de ser a nordestina para ser a imigrante. O filme abraça esse ponto de vista, exprimindo em imagens e sons o alheamento da personagem. Em certos momentos, a relação figura-paisagem chega a lembrar a dos grandes filmes de Wim Wenders — o que soa não como decalque, mas como busca de um código similar para expressar a alienação.
A idéia de um Nordeste melancólico e não característico conta com a adesão de atores e técnicos. A destacar, a sensibilidade da performance de Hermila Guedes e da fotografia de Walter Carvalho, essenciais para que intenções e resultados se harmonizem. De resto, é admirável a fluência do roteiro e da montagem, sem os solavancos nem o “explicadinho” de outros bons filmes brasileiros em cartaz. A maneira delicada como se fala de desejos e paixões acaba por descolar “O céu de Suely” de uma tradição segundo a qual o amor nos trópicos ou é melodrama ou é escracho.
O diretor Karim Aïnouz lança um olhar compassivo e compreensivo sobre o anseio de evasão e a disponibilização do corpo, sem julgamentos morais nem euforia demagógica.
Friday, November 17, 2006
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2 comments:
voce dá um ctrl+C crtl+V ou escreve to texto todo novamente?
ctrl+C crtl+V
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