Wednesday, September 13, 2006

Sex and the City of Rio de Janeiro

Uma noite de terça qualquer, quatro amigas vão ao Theatro Municipal em busca de cultura e diversão.

PRIMEIRO ATO

– Corre! Corre! Vão fechar a porta do teatro.
– O espetáculo acabou de começar. Cuidado com as escadas, são estreitas e não tem corrimão.
– Socorro! Como vou conseguir descer as escadas com esse salto?
– Com licença. Acho que vocês estão sentados nos nossos lugares.

Ufa! Todas sentadas e caladas assistindo o balé.

PRIMEIRO INTERVALO

Meia dúzia de três ou quatro palavras sobre como a harpista é habilidosa, como os bailarinos não conseguiam sincronizar o passo, o bobo da corte deu um show, de bobo não tem nada, e pobre da bailarina que caiu no chão e estava justamente na primeira fila – nesse momento, ela deve estar chorando no banheiro, coitada.
O resto do tempo foi dedicado a suas aventuras e desventuras amorosas.

– Fui almoçar com aquele cara mais uma vez. Acredita que depois de todas as nossas brigas ele teve a cara-de-pau de me propor um emprego? Claro que eu não vou aceitar, mas foi muito estranho ele todo sério me oferecendo um trabalho, tentando estabelecer uma relação estritamente profissional. Ele disse: “como namorados, obviamente, a gente não dá certo, mas trabalhando juntos vamos ser imbatíveis.” O pior é que, apesar dele ser o escroto que é, queria que ele tivesse tentado me dar um beijo. Ele me esqueceu completamente.
– Claro que não! Isso é terrorismo psicológico. Ele é um canalha, mau-caráter! Quer que você pense justamente isso, que ele não te quer mais, pra correr atrás dele e manter essa relação doentia. Ora ele fica atrás de você, ora você move mundos e fundos pra conquistá-lo. Chega de tentar ser amiga dele, isso só te faz mal.
– Ontem fiz um happy hour com aquele cliente que me paquera, apesar de ser casado. Mas ele não está bem no casamento. Aliás, a gente conversa muito sobre isso. Eu falei que estava pensando em voltar pro meu ex e ele me deu uma escovada.
– Ele pode dar quantas quiser, criticar, xingar, no final das contas, você vai fazer o que está a fim e pronto. Se ouvisse alguém, não teria mais encontrado com o escroto do Kaká.
– Puxa que força, hein? De onde eu me jogo agora?

PÉÉÉÉÉÉÉ – TERCEIRO SINAL

SEGUNDO ATO

As quatro ficam quietas, ou quase, e assistem o espetáculo.

SEGUNDO INTERVALO

Meia dúzia de três ou quatro comentários sobre os belos figurinos, como os bailarinos estavam mais afinados e que o ato foi bem menor, nem 40 minutos.

– Ele não podia ligar só pra saber como estou?
– Mas ele ainda não falou com você hoje?
– Mandou uma mensagem e só.
– Ah, deve estar enrolado. Não se preocupa, ele gosta de verdade de você. Pior eu que passei um e-mail e ele nem respondeu, nem me ligou, nem nada. Se bem que não posso reclamar, ele conseguiu convites do show pra gente e, mais, vai a um show de rock – coisa que ele não faz desde o Rock in Rio I!!!
– Vamos falar do que interessa. Onde a gente vai tomar um cosmopolitan mais tarde pra fechar a noite sex and the city?

PÉÉÉÉÉÉÉ – TERCEIRO SINAL

TERCEIRO ATO

O balé é lindo, mas depois de dois atos praticamente mudas, alguns comentários foram invitáveis. Quatro mulheres não conseguem ficar caladas durante três atos inteiros.

FIM DO ESPETÁCULO

– Caroline ou Saturnino?
– Caroline.
– Por que não o Saturnino? Gosto tanto do Saturnino?
– Saturnino, então.

Chegando no Saturnino.
– Bem que podia ter uma vaga na porta, né?
– Opa! Tem um carro saindo logo ali.
– Aliás, por que você tá saindo? Volta aqui!
– Não, a gente não gosta de playboy.
– É verdade.
– Não, não, não. Falem por vocês. Eu bem que gosto de um playboy.

Todas riem.
– Uma caipivodka de absolut de frutas vermelhas
– Um cosmopolitan.
– Uma caipivodka de tangerina com gengibre.
– Uma coca mesmo... Será que peço um hambúrguer? Preciso comer, mas não sei se quero enfiar tanto o pé na jaca.
– Ah, hambúrguer é uma das coisas mais gostosas daqui.
– É. Vou pedir mesmo!
– Não vou resistir. Vou ter que ligar de novo pra ele.
– Se você quer muito, paciência, liga.
– Não acredito que ele está me filtrando!
– Deve estar com o telefone longe.
– É, sei lá. Agora acho que só amanhã.
– Gente, preciso ir. Estou morta.
– Já? Você tá muito devagar.
– É, mas quero acordar cedo pra ir ao Pilates.
– Vou ligar de novo. De repente, agora, ele atende.
– Como você preferir. Não adianta discutir mesmo...
– Eu também, amanhã tenho drenagem, depilação... Vou ligar de novo. De repente, agora, ele atende.
– Como você preferir. Não adianta discutir mesmo...

Mais uma caipovodka pras que ficaram. Mais uns 20 minutos. Ele ligou de volta. Ele foi. Olhinhos brilhando. Final feliz!

1 comment:

Anonymous said...

"– Ontem fiz um happy hour com aquele cliente que me paquera, apesar de ser casado. Mas ele não está bem no casamento."

doce ilusão...